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Religião e Polêmica: Quando Começa a Vida? Aborto e Contraceptivos

Religião e Polêmica: Quando Começa a Vida? Aborto e Contraceptivos

28 de maio de 2024

Religião e Polêmica: Quando Começa a Vida? Aborto e Contraceptivos: A questão do início da vida é um tema que mistura filosofia e ciência, sendo debatido desde os primórdios da humanidade. A vida começa na concepção, no nascimento, ou em algum momento intermediário? Com a introdução da religião nessa discussão, o ingrediente da influencia as interpretações e as implicações morais e comportamentais impostas aos seguidores. A questão central é o momento em que a “alma” é concedida ao novo ser, mas as interpretações variam dentro do cristianismo e entre outras religiões importantes.

Especialistas foram consultados para trazer os entendimentos da Igreja Católica Apostólica Romana, igrejas cristãs protestantes e evangélicas, religiosidades indígenas e de matriz africana, espiritismo kardecista, judaísmo e islamismo. A partir desses entendimentos, cada credo traça suas normas morais para questões como sexo não reprodutivo, métodos contraceptivos, aborto e relações homoafetivas.

Igreja Católica

Segundo Francisco Borba Ribeiro Neto, ex-coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, o conceito de origem da vida no catolicismo evoluiu com o conhecimento sobre biologia fetal. Inicialmente, acreditava-se que a alma não se incorporava ao feto na concepção, mas com o avanço científico, a Igreja passou a crer que a alma é infundida no momento da concepção. Isso fundamenta a condenação ao aborto pela Igreja, que vê a concepção como o início de uma nova vida.

A Igreja Católica permite métodos contraceptivos naturais que monitoram o ciclo reprodutivo feminino, mas condena preservativos, DIU, pílulas anticoncepcionais, laqueadura e vasectomia, pois esses métodos impedem a livre ação de Deus. O sexo não reprodutivo é aceito por seu valor unitivo, mas deve estar aberto à reprodução. Relações homoafetivas não são aceitas por não poderem gerar filhos naturalmente.

Igrejas Protestantes e Evangélicas

Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que o cristianismo protestante e evangélico, como o católico, acredita que a vida começa na concepção. A Bíblia é a principal fonte de orientação, especialmente o Salmo 139, que sugere que Deus conhece a pessoa antes de sua existência física.

Protestantes são geralmente mais abertos ao uso de métodos contraceptivos, desde que dentro do casamento, que é visto como uma união abençoada por Deus. Tradicionalmente, o aborto é condenado, mas respeita-se o direito de escolha em casos de violência, risco de vida para a gestante ou má-formação fetal. Contudo, a ascensão de grupos evangélicos fundamentalistas tem levado a uma postura mais rigorosa contra o aborto.

Judaísmo

O rabino Theo Hotz explica que, segundo a Lei Judaica, a vida humana começa no nascimento. O feto é considerado vida em potencial até que comece a respirar após o nascimento. Entretanto, a cabalá sugere que a vida começa no quarto mês de gestação. O aborto não é fundamentalmente proibido, mas tampouco incentivado. Casos de risco para a mãe ou viabilidade baixa da vida fetal são motivos aceitos para o aborto. Métodos contraceptivos são analisados caso a caso, mas geralmente não são recomendados.

Islamismo

A vida, para o islamismo, começa 120 dias após a concepção, conforme o Corão. Antes desse prazo, o aborto não enfrenta tantos impedimentos, mas ainda é evitado. Métodos contraceptivos são aceitos, exceto os permanentes como laqueadura e vasectomia. Na época do profeta Maomé, já se praticava o coito interrompido.

Espiritismo Kardecista

Célia da Graça Arribas, professora na UFJF, explica que o espiritismo kardecista, sendo reencarnacionista, vê a alma como imortal e a vida como uma evolução contínua. Aborto é geralmente condenado por interromper a reencarnação de um espírito. Métodos contraceptivos são aceitos, exceto o DIU, que não impede a fecundação, sendo visto como impedimento ao espírito reencarnante.

Povos Indígenas

Giovani José da Silva, professor na Unifap, destaca que as crenças sobre o início da vida variam entre os povos indígenas, muitas vezes influenciadas por preceitos cristãos. Algumas comunidades aceitam o aborto e métodos contraceptivos sem tabus, enquanto outras são mais influenciadas por moralismos cristãos.

Candomblé

Rodney William Eugênio explica que no candomblé não há impedimentos morais para o aborto ou contraceptivos. A vida começa antes do nascimento, com cada pessoa escolhendo seu destino no mundo espiritual antes de nascer. A interrupção de uma gravidez é vista como parte do destino determinado no mundo espiritual, sem condenação moral.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nn9r10w32o

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