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Revelação Chocante: Escravos Escreveram Partes Cruciais da Bíblia

Revelação Chocante: Escravos Escreveram Partes Cruciais da Bíblia

30 maio 2024

Revelação Chocante: Escravos Escreveram Partes Cruciais da Bíblia: Um novo livro lançado nos Estados Unidos este ano apresenta um argumento surpreendente para muitos leitores da Bíblia: pessoas escravizadas desempenharam um papel crucial, mas pouco reconhecido, na criação e disseminação do Novo Testamento.

Em “God’s Ghostwriters: Enslaved Christians and the Making of the Bible” (“Ghostwriters de Deus: Cristãos Escravizados e a Criação da Bíblia”, em tradução livre), a historiadora Candida Moss afirma que pessoas escravizadas ajudaram os discípulos de Jesus a redigir os textos bíblicos e a espalhar o Evangelho pelo Império Romano.

Segundo Moss, professora de Teologia na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, apenas 5% a 10% da população era alfabetizada na época, principalmente os mais ricos. A maioria dos apóstolos e primeiros cristãos não sabia ler ou escrever. Mesmo os que sabiam, muitas vezes eram impedidos por artrite ou problemas de visão, em uma época em que óculos não existiam. Portanto, a tarefa de escrever cabia geralmente a pessoas escravizadas, que eram alfabetizadas desde jovens para atuar como secretários, escribas, leitores e mensageiros.

Nesse contexto, o fato de alguém ser identificado como autor de um texto não significava que ele havia escrito com suas próprias mãos. Era comum que a obra fosse ditada a pessoas escravizadas ou, em alguns casos, a ex-escravizados que não eram totalmente livres. Moss argumenta que, ao redigir o material ditado e copiar manuscritos, esses escravizados não apenas reproduziam os textos, mas contribuíam ativamente como coautores, fazendo correções e edições.

Essa colaboração se estendeu pelos dois primeiros séculos da Era Cristã, segundo a pesquisa. “Você pode ver pessoas escravizadas e ex-escravizadas como parte fundamental da atividade missionária, da escrita e da interpretação bíblica no início do Cristianismo. Elas estão envolvidas em tudo isso”, disse Moss à BBC News Brasil.

Os escravizados viajavam para locais distantes para ler passagens bíblicas a fiéis analfabetos, desempenhando um papel que Moss compara ao de missionários, escolhendo gestos e entonações para transmitir e interpretar os ensinamentos de Jesus. Dessa forma, ajudaram a moldar os fundamentos do Cristianismo.

Moss cita o exemplo das Cartas de Paulo. Segundo a historiadora, Paulo era o único apóstolo alfabetizado, mas ele próprio indica em seus textos que usava a ajuda de outras pessoas para ler e escrever. Além disso, algumas de suas cartas foram redigidas quando ele estava na prisão, em condições que dificultariam a escrita. Moss considera provável que essas cartas tenham sido ditadas a assistentes escravizados, emprestados por seguidores ricos.

A Epístola aos Romanos contém o trecho “Eu, Tércio, que escrevi esta carta”, indicando que foi redigida com a ajuda de Tércio. De acordo com Moss, Tércio é comumente descrito como escriba, o que pode dar a impressão de que era um amigo ou alguém que desempenhou a tarefa de forma voluntária. No entanto, a historiadora lembra que escribas e secretários na Era Romana geralmente eram escravizados ou ex-escravizados que haviam sido libertos. Ela destaca ainda que Tércio significa “Terceiro”, um nome comum entre escravizados na época.

A Epístola aos Filipenses menciona Epafrodito. Segundo Moss, o nome está relacionado à deusa do amor, Afrodite, e significa “belo”, sendo comum entre escravizados na Antiguidade, período em que muitos meninos eram explorados sexualmente. Outro exemplo é o Evangelho Segundo Marcos. A historiadora argumenta que o autor é descrito como intérprete de Pedro e que há indícios de que Marcos era escravizado.

Moss afirma que, à medida que o Cristianismo passou a dominar o Império Romano, o status de escravizados dos primeiros cristãos foi apagado, e “muitos heróis das Escrituras foram promovidos a bispos”. Ela lamenta que as contribuições dos escravizados para o Novo Testamento e o florescimento do Cristianismo não sejam reconhecidas.

Sem evidências diretas, a interpretação de Moss baseia-se principalmente na leitura de textos religiosos e seculares e no conhecimento sobre a escravidão nesse período histórico. O livro recebeu algumas críticas por utilizar “conjecturas” e “especulação sobre o passado”. No entanto, Moss salienta que foi “transparente sobre onde há evidências melhores ou piores” e garante que a ideia de que pessoas escravizadas colaboraram no Novo Testamento não é especulação.

“Gostaria que pensássemos de forma diferente sobre quem estamos lendo quando lemos a Bíblia”, afirma. “Não é apenas um livro de reis e bispos. É também uma coleção de livros produzidos por pessoas de diferentes setores da sociedade, que merecem visibilidade.”

Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil, Moss falou sobre o papel dos escravizados na Antiguidade, como contribuíram para a Bíblia, as evidências que encontrou em sua pesquisa e a resposta aos críticos.

Fonte e entrevista completa: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c80zewlgx78o

Jeferson Santos:

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